Na pitoresca, no sopé da imponente Serra dos Bois, no município de Salinas, norte de Minas Gerais, nasceu não apenas uma Cachaça, mas uma tradição que atravessou décadas e fronteiras. Anísio Santiago, homem visionário e simples, deu vida à Cachaça Havana no início da década de 40, com recursos mínimos e uma produção modesta de cerca de dez mil litros anuais.
Se compararmos a jornada de Anísio Santiago ao que Beethoven disse sobre música, encontramos uma verdade intrigante: "A dimensão da música está em produzir grandes resultados com meios escassos." Anísio, com maestria, fez exatamente isso, criando uma demanda crescente e transformando sua Cachaça em um verdadeiro objeto de desejo para os apreciadores mais exigentes.
Após a partida de Anísio em 2002, sua família assumiu a missão de preservar cada detalhe desse legado. A produção da Cachaça Havana permanece impregnada com a essência do homem que a inventou. Dos campos onde o carro de bois ainda ressoa em seu cantar choroso até a garagem onde repousa, em estado impecável, o icônico caminhão Chevrolet Loadmaster 1947, cada aspecto é cuidadosamente mantido.
A simplicidade e desapego de Anísio, apesar da fama, ressoam nas palavras deixadas em um velho caderno de família: "Ajudai-me Senhor, a viver sem apego, e a morrer sem saudades do mundo." Essa filosofia guia a família Anísio Santiago, que acredita que apenas ao manter intocado o legado de Anísio, podem preservar o padrão de qualidade da Cachaça Havana desde sua origem.
O respeito da família se estende além da produção de uma Cachaça de alta qualidade. Envolve o compromisso com o meio ambiente, a sociedade, os funcionários e os parceiros. Manter viva a tradição de Anísio Santiago não é apenas uma questão de produção, mas de integridade e conexão com todos os elementos que moldam o processo.
A história da Havana é marcada não apenas pela excelência do produto, mas também por reviravoltas legais. O embate com a multinacional francesa Pernod Ricard, que resultou na retirada do rótulo Havana em 2000, é uma narrativa fascinante. Anísio, em uma resposta notável, substituiu o rótulo, mantendo a identidade da Cachaça, agora carregando seu próprio nome.
Mesmo após a partida de Anísio, a batalha judicial pela marca Havana persistiu. Em 2005, a família obteve o direito temporário de usar o rótulo, consolidando-o definitivamente em 2011. Hoje, a Cachaça está disponível no mercado com dois nomes: Anísio Santiago, representando a tradição e a autenticidade, e Havana, uma homenagem à batalha legal e à inegável qualidade da bebida.
As garrafas antigas da Havana são tesouros guardados, com valores que ultrapassam os milhares. Amada por alguns e idolatrada por outros, a Cachaça Havana/Anísio Santiago ainda carrega o carisma de seu criador, tornando-a não apenas uma bebida, mas um legado em cada gole. Presentear com o rótulo Havana ou Anísio Santiago é mais do que chique; é celebrar uma história que transcende o tempo e as fronteiras. E, como Anísio diria, fazer o que se pode, com o que se tem, onde se está.